A tipografia está em todo lugar, nas placas das ruas, nos livros, nas telas, em muros, cartões de visita, etc. Ela mostra o caminho, indica o que fazer, e estamos tão acostumados com isso que nem percebemos ou paramos para pensar sobre.
Grande parte dos designers tem interesse em criar a sua própria fonte, e particularmente esta é uma das áreas do design que mais me prende a atenção, em todas (ou quase todas) as marcas em que trabalho procuro criar a própria tipografia para compor o projeto.
A ideia desse post é ensinar como criar uma tipografia, não vou aprofundar muito na história, porque existem diversos livros sobre, mas é importante que além desse post você procure estudar mais sobre o assunto.
Cada tipografia tem a sua própria característica e é pensada para atender uma determinada demanda, por exemplo as letras em placas de trânsito que estão por toda parte, possuem uma boa legibilidade com o intuito de garantir que você consiga ler a sinalização dirigindo a 90km por hora em uma estrada.
A legibilidade é o ponto mais importante em uma tipografia, o tamanho, peso, espaçamento, contraste, contribuem para que o texto seja legível e que gere identificação com o público alvo que é um fator importante a considerar.
Para cada situação existe um tipo específico de fonte, elas transmite sensações diferentes e possuem um tom específico de voz, isso faz com que a maneira como percebemos a mensagem mude.
A ideia aqui é ensinar ou ajudar a como construir uma tipografia, mas é importante considerar o que foi dito antes.
Antes de começar considere se sua fonte será com ou sem serifa, pois fontes serifadas são mais utilizadas em grandes textos como livros, pela característica que esse corpo tem ela conduz a visão de uma letra para outra, deixando mais confortável a leitura.
Já fontes sem serifa são normalmente mais usadas em títulos, subtítulos, ou em situações que seja preciso chamar mais atenção, e são mais indicados para aplicações em telas.
Antes de começar a construir sua a tipografia estude também a estrutura que a compõe, ou em outras palavras a sua anatomia, não vou alongar muito esse assunto aqui pois, é algo mais complexo e pretendo abordá-lo em outro artigo.
Mas vou deixar alguns links abaixo caso tenha interesse em entender mais sobre o assunto.
É recomendado que comece pelos caracteres de controle que geralmente são o “H” e “O” em maiúsculo, e, em minúsculo o “n”, “o” e “y”, eles apresentam várias características diferentes que podem ser usadas posteriormente na construção de outras letras.
O “H” possui duas hastes verticais e uma barra transversal além de marcar a largura e a altura média das letras, a letra “O” marcara as curvas longas.
Já o “n” possui uma abertura na parte inferior e em alguns casos a serifa na sua parte superior, a letra “o” por ser totalmente fechada ajuda a definir as curvas em minúsculo e o “y” pois, possui os dois braços em diagonal, e a calda na parte descente.
Comece com o rascunho, trace duas linhas paralelas, no meu exemplo eu fiz as duas com 30cm, depois 1,5cm abaixo da linha de cima, faça outra linha, com isso já teremos a linha base, a altura-x e a linha de caixa alta.
Agora novamente 3cm abaixo da linha base faça outra linha, essa é a descendente, e para completar 5mm acima da linha de caixa alta trace outra linha, assim teremos a linha ascendente.
A ascendente é a parte de uma letra que se estende acima da altura-x e o um descendente avança abaixo da linha de base.
Agora, comece desenhando os tipos de controle, não se preocupe em deixar perfeito de primeira, mas observe os ângulos e as proporções de cada letra, procure utilizar uma régua e um compasso, pois irão auxiliar bastante com os ângulos.
Tente deixar as hastes na mesma largura, esse é o traço principal na vertical ou diagonal de uma letra.
Se você deixar todas as letras na mesma altura irá parecer que as letras “n” e “o” por serem curvas, serão mais baixas que as demais, desenhe a curvatura um pouco acima da altura-x e um pouco abaixo da linha base.
Coloquei a imagem já vetorizada para facilitar a visualização.
Uma dica, caso não tenha ideia de como desenhar o seu tipo, procure uma fonte pronta de preferência com serifa, e tente copiar a sua estrutura, MAS NÃO SÓ COPIE, observe as características do seu corpo e tente aprender com elas, isso vai ajudá-lo a destravar.
As demais letras seguirão o padrão já desenhado até então, por exemplo o estilo da serifa deverá ser reaproveitado nas demais letras, a largura da haste, a altura das ascendentes, etc.
Não pense nos tipos isoladamente, a tipografia é formada pelo conjunto de caracteres que compõem o alfabeto.
Para ter uma tipografia completa você vai precisar fazer:
– O alfabeto em maiúsculas e minúsculas de A a Z.
– Os números de 0 a 9.
– Ponto final (.), vírgula (,), dois pontos (:), pontoe vírgula (;), ponto de exclamação (!), ponto de interrogação (?), apóstrofo (‘), Til (~), Acento Agudo (´), Acento Grave (`), Acento Circunflexo (^).
– Parênteses (), colchetes [], chaves {}, divisas <>, barra (/), barra invertida (\), barra vertical (|)
– Símbolos básicos de matemática e equação (=, +, -, ×, ÷)
– Hashtag (#), asterisco (*), Cifrão ($), porcentagem (%), trema (¨), e comercial (&), indicador ordinal (º, ª), arroba (@), grau (°), aspas (“”).
Bastante itens né?
Mas como disse a criação da tipografia deve ser pensada em conjunto, para facilitar a criação de uma tipo você pode usar algo de outro, as letras em maiúsculas seguem as proporções do “H” e as minúsculas as do “n”, esse é outro motivo pelo qual são as primeiras letras a serem desenhadas.
Por exemplo se girarmos em 180° o “n” você terá um “u”, se for uma fonte serifada apenas seria feito os ajustes na serifa para se adequar.
Outro exemplo é o p em minúsculo girando-o em 180° você obtém o “b”, se refleti-lo você terá o “d” e se girá-lo novamente em 180°, você terá um “q”.
Depois de desenhar todas as letras, é hora de digitalizá-las, você pode escancear ou tirar foto dos desenhos, então em um programa que trabalhe com formas vetoriais redesenhe todas as suas letras, eu particularmente tenho mais afinidade com o Illustrator, mas você pode utilizar o Corew ou Inkscape.
Para transformar esses arquivos em fontes você precisara de um programa próprio para isso, então basta copiar do illustrator e colar no FontLab.
No meu caso, utilizo o fontLab porque, tive mais afinidade com a sua interface, mais existem outros programas como fontark, fontstruct, entre outros.
Depois de digitalizar todas as formas e passá-las para um programa de fontes, você terá que se preocupar com o espaçamento entre as letras, existem algumas regras que devemos seguir por exemplo: tipos com linhas redondas devem ficar mais próximas de tipos com linhas retas, já em letras com diagonais devem ficar mais próximas ainda.
Esse espaçamento vai muito do seu gosto pessoal e você terá que ir ajustando até que fique agradável e de continuidade na leitura.
Outro fator a se preocupar é o Kerning, o seu objetivo é ajustar o espaçamento entre dois caracteres que parecem muito abertos ou muito apertados, um ótimo exemplo é o espaçamento entre as letras ‘A’ e ‘V’.
Tanto o ‘A’ quanto o ‘V’ devem ser espaçadas de modo que as extremidades de seus traços quase toquem o traço vertical da próxima letra.
Depois de todo esse processo é só exportar a fonte no formato que você queira, seja em Open type ou True type, não vou explicar tudo agora pois ficaria muito maior o post, mas eu recomendo o Open type que pode ser utilizado tanto em sistemas Mac quanto Windows.
Durante todo esse processo você vai avançar e voltar várias etapas, mas não tenha pressa é assim mesmo, não esqueça de fazer impressões para testar a legibilidade da fonte, e se possível mostre para pessoas próximas ou o cliente caso você julgue necessário.
Sei que o artigo ficou um pouco extenso e acredite ainda a muito o que falar sobre tipografia, mas vou deixar para outras oportunidades, espero que eu consiga ter ajudado de alguma forma, mas, caso tenha qualquer dúvida ou sugestão é só comentar no campo abaixo.
Obrigado!